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Materialização de Espíritos
A materialização de espíritos é um dos aspectos mais interessantes
estudados no espiritismo, mas não é "propriedade" desta doutrina em
particular. A vinculação se deu porque, nos primórdios do espiritismo,
ainda na França, o fenômeno foi muito estudado e ganhou publicidade e
respaldo de cientistas, que viam no espiritismo um novo ramo da ciência.
Antes disso, os fatos a esse respeito eram vistos com reservas e
segredos (e depois disso também, aliás, e o melhor exemplo é o Museu das Almas do Purgatório, pertencente à Igreja Católica e que quase nenhum católico conhece).
Em ocasiões especiais (e não me perguntem quais, pois ainda não sei)
um
espírito faz-se visível a nós, encarnados, sem a necessidade de um
médium. Algumas vezes só para uma pessoa, como o que eu vi
(e pode ser o caso dessa pessoa ter uma mediunidade aguçada), outras
vezes para todos, indistintamente. O processo envolve uma "baixa" na
vibração do corpo espiritual, grosso modo como um disco de cores do Newton,
que ao diminuir sua rotação podemos divisar as cores que até então não
víamos. Para o caso dos espíritos, ainda não há uma explicação
científica aceitável, mas pelo que se sabe isso envolve a reunião dos
fluidos vitais (algo parecido com a nossa "energia animal") de um médium
ou de um grupo de pessoas para tornar o espírito um pouco mais...
"vivo".
Em outros casos, o espírito utiliza-se de uma "cobertura" de
ectoplasma, um líquido viscoso produzido pelo corpo e que sai de dentro
do médium por TODOS os orifícios (urgh) e por algum motivo é moldável
com o pensamento. Achou que isso só existia no filme Os Caça-Fantasmas?
ERROU! A matéria que compõe o (saudoso) Geléia foi batizada por Charles
Richet de
Ectoplasma (do greo
ektós, fora, exterior, e
Plasma).
É uma substância viscosa, esbranquiçada, quase transparente, com
reflexos leitosos, evanescente sob a luz, e que tem propriedades
químicas semelhantes às do corpo físico do médium, donde provém.
Quimicamente, ela possui muita semelhança com a massa protoplásmica, é extremamente sensível a eletricidade e magnetismo, podendo ser moldável pelo pensamento e vontade do médium que o exterioriza, ou dos Espíritos desencarnados, podendo assim eles atuarem sobre a matéria.
O aspecto diáfano e pouco detalhado dessas aparições se caracteriza
pela própria natureza da materialização ectoplasmática: é como se você
embrulhasse uma comida com um filme plástico, só vai ser vista as formas
grosseiras, nunca os detalhes. Outro método dos espíritos deixarem
suas marcas é mergulhando a "mão espiritual" deles em cera quente. O
resultado é que aparece DO NADA o molde de uma mão, ou uma rosa (eu já
vi uma rosa dessas num centro espírita) ou qualquer coisa que o espírito
plasmar com o pensamento.
Vários médicos e cientistas analisaram, à época de Kardec, o fenômeno
da materialização. Vários métodos para evitar fraudes, muitos
humilhantes para o médium (como amarrá-lo e deixá-lo nu) foram feitos, e
mesmo assim as materializações ocorriam. Já em 1870, o conceituado
físico e químico inglês William Crookes,
descobridor do elemento "Talio" (TI) e membro da Sociedade Real
Inglesa, estudou o fenômeno. Tudo começou quando o cientista decidiu
acabar de vez com aquela idéia absurda de que "espíritos" poderiam se
materializar. "
Vou provar tratar-se de uma ilusão vulgar",
anunciou. Mais de três anos após o início de suas pesquisas, Florence
Cook - uma médium de 17 anos considerada um fenômeno na sua época, mas
que havia sofrido denúncia de fraude - ofereceu-se a Crookes e sua
esposa para ser pesquisada, aceitando quaisquer condições. O relatório
escrito pelo cientista era quase uma heresia. A adolescente, quando em
transe, liberava tanto ectoplasma que dava vida a uma outra forma
feminina: Kate King, capaz de andar e falar por mais de duas horas
seguidas. Florence era baixa e morena. Kate era alta, loura e aparentava
ter 35 anos. O relato era minucioso e apresentava até as pulsações,
completamente diferentes, da viva e da morta. Para arrematar, Crookes,
anexou à sua narrativa 48 fotografias.
Segundo Gabriel Delanne, "William Crookes foi, na Europa, o primeiro
cientista que teve o valor de comprovar, escrupulosamente, as afirmações
dos espíritas. Muito cético, a princípio, suas investigações o
conduziram progressivamente à convicção de que esses fenômenos são
verdadeiros e não titubeou um único momento em proclamar, em alto e bom
som, a certeza em que resultou o seu trabalho. A partir de então outros
pesquisadores o seguiram, como Alfred Russel Wallace, Oliver Joseph Lodge, Frederic William Myers, Richard Hodgson seguem pela senda aberta. Na Alemanha, cientistas eminentes como Friedrich Zöllner, Weber, Ulrici, o dr. Frièze e Carl Du Prel rendem-se
à verdade que passam a defender. Na Rússia, Aksakof e Butlerof (da
Universidade de São Petersburgo). Na Itália, o professor Falconer,
Chialia, Broffério, Finzi, Schiaparelli e o próprio César Lombroso são levados a confessar a exatidão dos fenômenos que antes punham em dúvida. Na França, Gibier, Richet, De Rochas e Camille Flamarion comprovam a mediunidade de Eusápia Paladino."
Flamarion, conceituadíssimo astrônomo francês - para muitos cientistas
considerado o "Carl Sagan do século XIX" - conterrâneo e amigo pessoal
de Allan Kardec, afirmou:
"Porque, senhores,
o Espiritismo não é uma religião, mas uma ciência, da qual apenas conhecemos o ABC.
O tempo dos dogmas terminou. A Natureza abarca o Universo. O próprio
Deus, que outrora foi feito à imagem do homem, não pode ser considerado
pela Metafísica moderna senão como um espírito na Natureza. O
sobrenatural não existe. As manifestações obtidas através dos médiuns,
como as do magnetismo e do sonambulismo, são de ordem natural e devem
ser severamente submetidas ao controle da experiência. Não há mais
milagres. Assistimos à aurora de uma Ciência desconhecida." (...)
"Aquele cuja visão é limitada pelo orgulho ou pelo preconceito e não
compreendem esses desejos ansiosos de nossos pensamentos, ávidos de
conhecimentos, que atirem sobre tal gênero de estudos o sarcasmo ou o
anátema! Nós erguemos mais alto as nossas contemplações!"
Estranho que as mentes mais brilhantes de sua geração tenham sido
enganadas em diversos países com jogos de espelho e truques baratos...
Afinal, esse é o pensamento da comunidade científica atual que, ao
contrário de seus brilhantes antecessores, não se interessam por esses
assuntos "transcendentais".
Seja como for, o fenômeno não parou com a falta de interesse. Apenas
foi relegado ao ostracismo, até que Chico Xavier e outros poderosos
médiuns pudessem ser o veículo para dar ao Brasil demonstrações
dramáticas de que a vida continua. Um deles era Francisco Peixoto Lins, o
Peixotinho. Convidado a ir a Uberaba, ele se apresentou a Chico Xavier
e uma seleta platéia, que incluía o delegado de polícia paulista R. A.
Ranieri. Marcel Souto Maior nos relata o ocorrido, no livro
As Vidas de Chico Xavier:
"Às oito da noite em ponto, uma lâmpada vermelha iluminou a platéia.
Mais de quinze pessoas, entre elas Chico Xavier, iniciaram o rito, de
acordo com o regulamento espírita: leitura de trechos evangélicos,
seguida de comentários, "para atrair espíritos de ordem superior",
acompanhada por música clássica, "para facilitar a aglutinação fluídica"
e conduzir os participantes a uma vibração positiva. Ave Maria, de
Gounod, tomou conta do ambiente. Da cabine onde estava Peixotinho saíram
clarões coloridos. O corredor foi atingido por reflexos verdes, roxos e
azuis. De repente, apareceu na sala um visitante fluorescente. Diante
de olhos atônitos, alguns deles desconfiados, começou o desfile de
assombrações.
Um dos perplexos na platéia era o delegado de polícia paulista R. A.
Ranieri. Naquela noite, ele foi surpreendido pela visita de uma réplica
iluminada de sua filha, Heleninha, morta três anos antes, com dois anos
de idade. A garota "saiu" do corpo de Peixotinho e "ressuscitou",
quase em neon, com a mesma fisionomia e estatura dos tempos de viva e
com a voz semelhante à original. Cumprimentou o pai e colocou nas mãos
dele uma flor brilhante.
Era ela, sem dúvida nenhuma - garantiu Ranieri.
E exigiu credibilidade.
Ficou tão convencido da autenticidade dos fenômenos que escreveu um
livro sobre o assunto, intitulado "Materializações Luminosas".
continue lendo a materia clicando em "mais informações" logo abaixo
O espetáculo durou pouco e foi até bem comportado perto dos shows
promovidos por Peixotinho no Rio. As experiências realizadas por ele e
acompanhadas por Ranieri na capital eram ainda mais espetaculares.
Algumas vezes, duas latas, com capacidade para vinte litros cada,
ficavam lado a lado na cabine onde o médium dava à luz seres invisíveis.
Numa delas, parafina dissolvida fervia sobre um fogareiro aceso, à
temperatura de até cem graus centígrados. A outra ficava cheia de água
fria. As criaturas iluminadas enfiavam as mãos e os pés nas latas de
parafina fervente e, depois, as mergulhavam na água. Resultado:
esculturas perfeitas. As surpresas se sucediam. Frases ditas pelos
espectadores viravam, em segundos, letreiros luminosos suspensos no ar."
Em outra ocasião, em Pedro Leopoldo, a cabine onde fica o médium doador
de ectoplasma, antes indevassável, foi aberta ao fotógrafo Henrique
Ferraz Filho. O ectoplasma, expelido pela boca e ouvidos do médium
Peixotinho, assumia forma humana e adquiria voz. Quando Henrique
disparava o flash, não via nada ou ninguém diante dele. Mas, ao revelar o
filme, a aparição estava lá. Na noite de 2 de maio, a Rolleyflex
registrou o corpo estranho de um senhor carrancudo envolto em uma
espécie de manto vaporoso. No verso da fotografia, Chico Xavier
escreveu:
'
Na cabine habitual das sessões de materialização, tivemos a
felicidade de receber a visita do irmão Camerino, desencarnado na cidade
de Macaé...
Francisco Cândido Xavier'.
Ninguém conseguiu provar a existência de truques nas sessões de
materialização em Pedro Leopoldo nem de montagem nas fotos. Chico
"assinou embaixo" de várias delas.
Em 1952-53, Chico Xavier se animou a realizar ele também sessões de
materializações. Chico se deitava na cama em um quarto próximo à sala,
as rezas começavam, a música enchia a sala e o desfile de aparições
surpreendia os espectadores. As criaturas iluminadas eram mais etéreas,
menos sólidas, do que as geradas por Peixotinho em seus espetáculos.
Numa das noites, um dos espectadores e amigos de Chico, Arnaldo Rocha,
recebeu a visita de Maria José de São Domingos Ramalho Rocha, sua mãe.
Quando viva, ela tratava os filhos como "vidrinhos de cheiro" e tinha a
mania de pousar as mãos na cabeça deles. Em sua versão fluorescente,
ela repetiu os hábitos estranhos. O filho quis saber se ela conservava
também a mania de cheirar rapé. A aparição riu, negou e mostrou a
tabaqueira vazia. Em outra noitada, uma senhora fulgurante, coberta por
véus, saiu do cubículo onde estava Chico e iluminou a sala de visitas
com uma jóia fosforescente. André Xavier identificou a recém-chegada:
era Cidália, mãe dele, segunda mulher de João Cândido. Antes de sair, a
madrasta de Chico deixou um rastro de perfume no ar. De repente, uma
nova fragrância invadiu a sala e uma figura
elegante entrou em cena. Era
Meimei, ex-mulher de Arnaldo. Ela cumprimentou a todos e pediu que a
"pessoa necessitada" se aproximasse. Um jovem tuberculoso se levantou da
cadeira. A aparição envolveu seu peito com cordões fosforescentes. A
radioatividade, livre dos efeitos negativos do rádio, poderia curar. Em
seguida, um sujeito com pose austera, enfiado numa toga romana de
tonalidade azul, surgiu na sala com uma tocha acesa numa das mãos. Em
tom grave, afirmou:
Amigos, o que acabastes de ver e de ouvir representa maiores responsabilidades sobre os vossos ombros.
Era Emmanuel.
Logo, ele sumiu e abriu alas para nova onda de perfumes. A
recém-chegada era bem mais atraente e simpática. Loira, jovial,
respondia pelo nome de Sheilla e falava com forte sotaque alemão. Um dos
espectadores, diante da enfermeira morta na Segunda Guerra, tratou de
fazer uma consulta médica:
- Eu me sinto mal.
- Você come muita manteiga.
Ela pediu que o paciente levantasse a camisa. Iria fazer uma radiografia do seu estômago.
Sheilla se aproximou e, com os dedos semi-abertos, apalpou a região do
estômago em sentido horizontal. Os espectadores ficaram perplexos. De
repente, a barriga do paciente ficou transparente e todos puderam ver
suas vísceras em funcionamento. Sheilla se limitou a informar:
- Agora levarei a radiografia ao Plano Espiritual para que a estudem e lhe dêem um remédio.
O FIM DAS MATERIALIZAÇÕES VIA CHICO XAVIER
Em 1953, Chico estava na cabine quando a sala foi iluminada por uma espécie de relâmpago. Segundo o livro
Mandato de Amor:
"Já era bem tarde, Chico ainda estava na cabine, quando se
materializou uma entidade, cujo porte e luminosidade demonstraram-nos
grande superioridade. A porta por onde adentrou o recinto
evidenciou-lhe a estatura elevada. Profundo silêncio se fez, embora
sussurros se fizessem ouvir:
— Emmanuel?!?
Ali estava o abnegado servidor de Cristo, o ex-senador romano!
Arnaldo Rocha assim descreve a profunda emoção causada pela
materialização daquela singular e inesquecível presença: A
materialização de Emmanuel foi magnífica! Emmanuel é um belíssimo tipo
de homem. Atlético, alto, provavelmente 1 metro e 90 centímetros de
altura. Sua voz clara, forte, baritonada, suave mas enérgica,
impressionou-nos muito. O andar e os gestos elegantes, simples, porém
aristocráticos. No grande e largo tórax um luzeiro multicolorido. Na mão
direita, erguida, trazia uma tocha luminescente e sua presença sempre
irradiava paz, harmonia, beleza e felicidade."
E ele falou a todos:
- Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns
companheiros e até beneficiá-los com a cura física. Mas o livro é chuva
que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos
amigos a suspensão destas reuniões a partir desse momento.
Pelo visto, a espiritualidade só permitiu essas materializações para
atrair o interessa para a doutrina espírita. De fato, não faz muito
sentido espíritos ficarem se exibindo para satisfazer a curiosidade
humana, a menos que isso sirva para que os humanos se interessem em
estudar, progredir, mudar suas atitudes menos nobres, e foi por isso que
depois disso Chico se dedicou apenas a psicografar. E psicografou
muito.
O CASO OTÍLIA
A proibição não o impediu de assistir a casos de materialização. Foi o
que ele fez em 1963, ao acompanhar as aparições advindas da médium
Otília Diogo. Uma das que mais apareciam era uma freira, a "Irmã
Josefa".
Repórteres da revista
O Cruzeiro foram chamados a acompanhar os
trabalhos em duas oportunidades, no final de 63 e começo de 64, mas a
sanha por sensacionalismo da revista fez com que os repórteres agissem
de má fé, criando um verdadeiro escândalo de proporções nacionais e que
levanta dúvidas nos espíritas até hoje.
Dúvidas que o livro
Materializações de Uberaba, de Jorge Rizzini, pretende esclarecer. Segundo ele, o livro "retrata, com riqueza de detalhes, a campanha da revista
O Cruzeiro
que transformou propositalmente em farsa as famosas materializações da
freira de Uberaba. Chico Xavier e 19 médicos viram-se envolvidos em um
escândalo que abalou o movimento espírita mundial. Este livro
histórico de Jorge Rizzini restaura a verdade. Reproduz os debates na
TV e o laudo da Polícia Técnica de São Paulo que refuta o da Polícia do
Rio de Janeiro."
Acompanhemos todo o caso, passo a passo, para podermos tirar nossas próprias conclusões:
O QUE EU VI EM UBERABA ATRAVÉS DE OTÍLIA DIOGO
Extraído do livro Materializações
em Uberaba, de Jorge Rizzini. Ed. Livro Fácil - Nova Luz Editora. Fotos
de Nedyr Mendes da Rocha (quem puder obter a edição de 1964, da
Edicel, terá melhores fotos do que a atual)
Ectoplasma saindo da boca (blerg!) do médium Antônio Alves Feitosa e
formando a aparição de Irmã Josefa, em Uberaba, 1965, na presença de
Chico Xavier. Otília Diogo também aprticipou, e se encontrava sentada
dentro da cabine.
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Dias após fazer publicar em um semanário de São Paulo uma reportagem
sobre Dna. Otília Diogo e as materializações através de sua mediunidade
(éramos, então, chefe de reportagem da Edição Extra) foi o autor deste
livro convidado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira a
assistir, em Uberaba, sessões com a referida médium de efeitos físicos.
Era o primeiro contato que teríamos com Dna. Otília Diogo, e
ansiávamos por ele. Minha incumbência específica era registrar em um
documentário cinematográfico o encontro da médium com os
médicos,
com Chico e Waldo, etc. e, assim ampliar a Filmoteca Allan Kardec,
criada por nós. No dia marcado, em companhia do psiquiatra Alberto
Calvo, dirigi-me a Uberaba, levando comigo a aparelhagem de filmar. A
sessão a que assisti foi realizada no pequeno consultório médico de
Waldo Vieira. E em condições capazes de evitar possibilidade de fraude.
Rigorismo absoluto, inclusive entre os próprios médicos. Basta
recordar que a ninguém foi permitido entrar na sala dos trabalhos
trazendo lenço e nem relógio no pulso. Ainda mais: fomos obrigados a
entrar na sessão sem paletó... e sem gravata! Quanto a médium Otília
Diogo, devia trocar de roupa: ao invés do vestido colorido, que usavam,
devia ela vestir uma camisola negra, exclusivamente. A cautela se
justificava: é que o espírito de Irmã Josefa se materializa como
freira, vestida totalmente de branco. A jornalista associada, Wanda
Marlene, foi incumbida pelos médicos de acompanhar dna. Otília Diogo ao
compartimento contíguo ao consultório e fiscalizar, também, a troca de
roupa. Era a primeira vez que a jornalista se defrontava com a médium.
No consultório do médico Waldo Vieira estavam instaladas nove
máquinas fotográficas:
os espíritos que porventura se materializassem seriam fotografados em
nove ângulos diferentes para exame e confronto. No teto, o flash
eletrônico. Viam-se, também, barômetros, balanças, etc. Frente às
cadeiras, dispostas em fila para os assistentes, uma jaula de aço
confeccionada em Uberaba; idêntica às que se vê nos jardins zoológicos e
da qual (sem exagero) nem mesmo uma pantera ou um leão poderiam
escapar. Jaula esta destinada aos médiuns.
Após verificação da temperatura do ambiente e pesagem de todos os
presentes, foram introduzidos na referida jaula Otília Diogo, coberta
por uma camisola de cor negra, e o Sr. Feitosa. Em seguida foram
amarrados pelos próprios médicos. Nos pés, foram colocadas fortes
correias com cadeados; nos pulsos, ao invés de correias, algemas
policiais prendendo também o braço da cadeira. Algemas do tipo espanhol:
quanto mais o preso procura libertar-se, mais apertam os pulsos.
Penalizou-me ver Dna. Otília Diogo naquela situação humilhante: vestida
com roupa preta, dentro de uma jaula e algemada, como uma criminosa.
Mas, a mesma pedira aos médicos rigor excessivo na fiscalização de sua
pessoa, e esse pe-dido ela o fez com espontaneidade admirável, pois
médium autêntica que é, sujeita-se a tudo, sem nada temer. Tudo pronto,
os médicos sentaram-se em seus lugares. Waldo Vieira leu um trecho do
Evangelho, abrindo em nome de Deus a reunião e, em seguida, foi apagada
a lâmpada do consultório. A sala ficou em escuridão total.
A pedidos, Francisco Cândido Xavier, ao nosso lado, fez uma lindíssima
prece, citando várias vezes o nome de Jesus. Terminada esta, a
expectativa pareceu crescer. Algo aconteceria ou não? O mundo
espiritual se faria presente ali?
Acredito que todos estivessem duvidando. Quanto a mim acostumado a ver
embusteiros fantasiados de "fenômeno", confesso que, não sei porque,
não acreditava nos dons mediúnicos de Dna. Otília... E muitíssimo menos
nos do Sr. Feitosa. Aquelas algemas policiais... A jaula zoológica...
Os dezenove médicos, todos atentos com os olhos arregalados...
Mas, para grande espanto nosso, de súbito ouvimos no lado esquerdo da
jaula, onde se encontrava Dna. Otília Diogo, ruídos estranhos... Ruídos
guturais. Deram a impressão de alguém estava a extrair algo da boca da
médium. Dna. Otília gemia. Era o transe que se iniciava. Segundos
depois, começou a liberação do ectoplasma; não apenas pela boca, mas
também pelos ouvidos e nariz. Agora , o ruído que chegava até nós
modificou-se: palavras initeligíveis passaram a ser proferidas. Palavras
gritadas. Evidentemente, o espírito manifestante estava a experimentar
a garganta recém-formada com o ectoplasma fornecido pela médium.
Materialização de Irmã Josefa. Clique aqui para ver mais fotos
|
Que estava por suceder? E, imediatamente, mãos invisíveis puseram em
movimento a vitrola localizada fora da Jaula e, ato contínuo, sob a luz
de uma pequenina lâmpada vermelha, diante dos dezenove médicos surgiu a
materialização total do espírito de Irmã Josefa: magnífica, toda
vestida de branco, com roupa de freira. Trazia uma luz na fronte e no
tórax. - Viva Jesus! - disse ela, alegre, e sua voz com timbre
brilhante e, no entanto, suavíssimo (oposto ao da médium) ecoou pelo
consultório.
- Viva Jesus! - responderam todos, deslumbrados com o fenômeno.
E Irmã Josefa tornou a repetir, com seu sotaque alemão:
- Viva Jesus!
E esparziu sobre todos gotas de perfume. O ambiente parecia etéreo, não
obstante vinte e poucas pessoas respirando e transpirando dentro de uma
pequena sala hermeticamente fechada a cadeados.
- Sabem porque estou aqui entre vocês, meus filhos? Para dar provas de
que a morte não existe. Provas verdadeiras de que todos vocês são
imortais.
E Irmã Josefa, mostrando-se muito feliz, deu em verdade provas
magníficas. Permitiu dezenas de fotografias; entre elas, várias
curiosas, como por exemplo, uma que mostra seu corpo ectoplásmico sendo
interpenetrado pelas grades da jaula. Outro fenômeno curioso, foi o
transporte de três fitas coloridas para o consultório. Essas fitas de
pano foram colocadas na palma da mão de Chico Xavier e, entre Chico
Xavier e Irmã Josefa havia uma distância de, pelo menos, três metros; o
espírito, no entanto, para colocar as fitas na mão de Chico Xavier, não
caminhou um passo! Seu braço ectoplásmico é que se alongou.
Nessa noite memorável, também se materializou através de Dna. Otília o
espírito de Alberto Veloso, ex-médico da marinha. Materialização
integral. Antes, fez-se anunciar no recinto esparzindo gotas de éter.
Foi inúmeras vezes fotografado. Também o espírito de uma criança, sem se
deixar ver, conversou com os presentes. Em seguida, materializou uma
gaita e tocou-a, permitindo que nós outros (inclusive eu) a
examinássemos. A gaita teria uns quinze centímetros de comprimento e
cinco de altura.
Por tudo o que nos foi dado ver, podemos afirmar: dna. Otília Diogo nos
faz lembrar as médiuns do passado Eusápia Paladino, que também era
analfabeta, Mme. D'Esperance nos seus grandes momentos de mediunidade.
Principalmente, D'Esperance; inclusive, pela sua comovedora
simplicidade, fora do normal. Infelizmente, Antônio Alves Feitosa,
dentro da jaula algemado, nada pode oferecer aos médicos no complexo
campo da mediunidade.
Esse trabalho em Uberaba, dias depois foi repetido na residência do
autor deste livro. Mas, em condições privilegiadas: não foi necessário o
uso intermitente da lâmpada vermelha, que as materializações de
Alberto Veloso e Irmã Josefa, em nossa sala de visitas, se verificaram
sob a luz branca, indireta e contínua. Iluminação excessiva; e, no
entanto, Alberto Veloso, nessa noite, apresentou-se diante de nós sem
véus. Com uma nitidez espantosa.
Aqui termina o que podemos chamar de primeira fase do nosso histórico.
Foi ela redigida a fim de que o leitor se inteire de fatos paralelos ao
escândalo de O Cruzeiro e tome conhecimento de detalhes que vão
esclarecer (ainda mais) certas questões que adiante serão levantadas.
OS REPÓRTERES DA REVISTA O CRUZEIRO EM UBERABA
Agora, é chegado o momento de tocarmos em um ponto fundamental: o intrometimento da revista
O Cruzeiro nas experimentações de ectoplasmia, em Uberaba.
A primeira reportagem (a favor das experiências) com catorze páginas
ilustradas, traz a assinatura de José Franco e foi feita com o sentido
de conquistar a simpatia dos dezenove médicos que examinaram a médium
Otília Diogo. Essa primeira reportagem, porém, nasceu como?
Por incrível que pareça, de um programa de televisão... O repórter
assistiu ao programa organizado por Wanda Marlene na TV Itacorumy, ouviu
o depoimento de alguns médicos, viu diversas fotografias pelo vídeo e
foi aos estúdios buscar o material para a reportagem, que recebeu o
nome de "Fenômenos de Materialização".
Aqui começa a irresponsabilidade da revista
O Cruzeiro: publicar
uma vasta reportagem sobre materialização de espíritos, ilustrada com
quinze fotografias, algumas ocupando página inteira, sem que seu autor,
José Franco, tivesse, pelo menos, conhecimento do local das sessões!
Absurdo, evidentemente, em se tratando de uma revista que pretende ser
mais ou menos honesta. Mas, má fé já estava patente nessa primeira
reportagem; porque José Franco, ao fim da mesma, deu destaque à seguinte
"nota do repórter" e para a qual chamo a atenção do leitor:
"
Não houve neste texto (escreve o repórter) do princípio ao fim,
nenhuma frase que denunciasse a opinião do repórter. Esta será expedida
em outra ocasião, se me for dada a oportunidade de presenciar, com os
próprios olhos, as pesquisas que a numerosa equipe médica procede na
cidade de Uberaba"
Os médicos (psicologicamente pressionados por essa reportagem) se viram
obrigados a convidar José Franco para uma sessão experimental com Dna.
Otília Diogo. José Franco respondeu que se faria acompanhar de uma
testemunha, um outro repórter de nome José Nicolau. E a data da
experimentação foi marcada, que já não era possível aos médicos voltar
atrás... Se desfizessem o compromisso, fatalmente seriam massacrados
pela revista como "embusteiros", etc.
No dia da sessão, porém, tiveram os médicos uma surpresa: ao invés de
apenas José Franco e uma testemunha José Nicolau, surgiu em Uberaba,
vindo do Rio de Janeiro, um bando de repórteres e fotógrafos, "para
assistir aos trabalhos".
É evidente, portanto, que a trama de
O Cruzeiro já estava preparada.
Era impossível recuar; e os médicos, sem saber o que iria acontecer
(mas, apoiados espiritualmente com a presença de Chico Xavier) entraram
no consultório de Waldo Vieira acompanhados de Jorge Audi, Henri
Ballot, José Franco, Mário Moraes, Paulo Miranda, José Nicolau e Nilo
Oliveira. Ao todo, sete repórteres e fotógrafos de uma revista
sensacionalista. Participaram, também, dos trabalhos Cleusa Soares e a
valorosa Wanda Marlene, ambas da TV Itacolomy, de Belo Horizonte. (A
sessão foi realizada na noite de 3 de janeiro de 1964).
O que foi essa sessão, vamos narrar agora; sem minúcias, mas com base em depoimentos.
Estavam presentes no consultório do Dr. Waldo Vieira (local da
experimentação) treze médicos, alguns professores de faculdades. Eram
eles: Dr. Eurípedes Tahan Vieira, Dr. Cleomar Borges de Oliveira, Dr.
Adroaldo Modesto Gil, Dr. Alberto Calvo, Dr. Adelor Alves Gouveia, Dr.
Waldo Vieira, Dr. Oswaldo de Castro, Dr. Elias Barbosa, Dr. Armando
Valente de Couto, Dr. José Américo Junqueira de Mattos, Dr. Ismael
Ferreira da Rezende, Dr. Milton Skaff e Dr. Sebastião de Mello, que
dirigiu a sessão propriamente dita.
Treze médicos, mas a fiscalização foi entregue aos repórteres. Foi-lhes
dada, para isso, ampla liberdade de ação. Começaram eles examinando,
através de batidas, as paredes do consultório; depois, o teto, o piso, a
porta. O ventilador e o exaustor também passaram por um revisão: por
dentro e por fora. Nada de suspeito encontraram. Os próprios médicos
foram revistados pelos Jornalistas; inclusive, os sapatos e, mais
detidamente, os saltos de borracha...Talvez com uma pressão pulasse o
salto do sapato de um médico mancomunado com Dna. Otília Diogo e
surgisse o vestuário enorme da freira...
Quanto a Francisco Cândido Xavier, que participava da reunião apenas na
qualidade de assistente, teve as roupas um pouco mais policialmente
examinadas. Era tal a desconfiança que inspirava, que os bolsos de sua
calça foram destruídos: alguém levantara a hipótese de que a vestimenta
da freira poderia estar escondida na calça do médium mineiro...
Para completar a fiscalização, o próprio Dr. Adelor Alves Gouveia
aconselhou que se colocasse no ombro de cada participante um pedaço de
esparadrapo fosforescente a fim de evitar-se movimentos suspeitos no
consultório. Isso também foi feito.
Médicos e consultório revistados com perícia pela equipe de repórteres,
restava, agora, um exame completo em Dna. Otília Diogo. Já sabe o
leitor que ela é uma senhora humilde, sem nenhuma instrução (não sabe
sequer ler e escrever) e que a exemplo dos médiuns Francisco Cândido
Xavier e Waldo Vieira, se sujeita a qualquer tipo de experimentação;
inclusive, a exigida pela equipe de
O Cruzeiro...
Antes de entrar na sala dos trabalhos, foi ela submetida a um exame
(por razões óbvias) feito pelo Dr. Ismael Ferreira de Resende. Em
seguida, para evitar qualquer suspeita de fraude, convidada a vestir uma
camisola negra, visto que a roupa da freira materializada é totalmente
branca, dos pés a cabeça. Tanto o exame no corpo de Dna. Otília Diogo
como a troca de roupa foram feitos na presença dos repórteres Mário
Moraes e Jorge Audi. Absurdo, evidentemente, mas era preciso que a
verdade espiritual se manifestasse límpida e cristalina naquela noite.
Comprovado que nada de suspeito havia no corpo e nas vestes da famosa
médium, foi ela conduzida ao consultório onde todos a aguardavam. A
cadeira destinada a médium era do tipo "espreguiçadeira". Estava
solidamente fixada ao solo, pois fora chumbada com cimento! Tranqüila,
dona Otília Diogo acomodou-se e os repórteres, imediatamente, procederam
a sua prisão.
Nilo Oliveira, ex-reporter policial, comandou esse trabalho. Com
grossas correias a médium teve as pernas presas aos pés da cadeira. Nas
correias, cadeados; e, cobrindo a fechadura dos mesmos, teve ainda o
arguto Nilo Oliveira o cuidado de colocar tiras de esparadrapo, todas
elas com a sua rubrica. Mas, os repórteres não comem gato por lebre: o
corpo de Dna. Otília não poderia ter movimentos livres...E fizeram uso
de novas correias, as quais levaram a força o corpo da médium ao encosto
da cadeira; prendendo essas correias, foram colocados novos cadeados
envolvidos em esparadrapos, também rubricados por Nilo Oliveira. Pés e
tronco presos, restavam apenas as mãos de Dna. Otília Diogo: para
impedir-lhes qualquer ação, estava reservada uma algema policial, que
foi colocada nos pulsos pelo ex-reporter policial.
Tudo em perfeita ordem, os repórteres, já combinados entre si,
distribuíram-se, estrategicamente, pelo consultório. Paulo Miranda foi
incumbido de policiar a porta da entrada. Quanto a Nilo Oliveira,
recusou-se a ficar no consultório, explicando:
- Se alguma coisa aparecer aqui dentro, é porque veio do lado de fora. Eu e o nosso motorista ficaremos vigiando o prédio.
Fechada a porta, foram as lâmpadas do consultório apagadas.
Dr. Sebastião de Mello, após fazer uma breve explanação sobre os
fenômenos que certamente iriam se verificar, pediu a Francisco Cândido
Xavier que abrisse a sessão com uma prece.
A experimentação foi cronometrada pelo Dr. Adroaldo Modesto Gil e teve
início, exatamente, às 21:05 hs. Cinco minutos depois, porém, já a
notável médium entrou em transe: primeiro, gemidos, em seguida liberação
do ectoplasma pela boca, ouvidos e nariz. As 21,20 hs. (dez minutos
depois) surgiu o primeiro fenômeno: aspersão de perfume em forma de
chuva leve sobre os repórteres (aviso de que Irmã Josefa iria
materializar-se). Sete minutos após a "chuva", com espanto observaram
todos o segundo fenômeno: uma luminosidade movimentando-se nas
proximidades da médium, a qual se mantinha em sono profundo. A
luminosidade continuou em movimento e um minuto depois foi constatado o
terceiro fenômeno: uma voz feminina ecoou no consultório. Voz com
timbre metálico, porém suave, meigo.
Os repórteres, é óbvio, começavam a assustar-se.
Sete minutos após a "voz direta", para espanto e admiração de todos,
foi visto o quarto fenômeno, magnífico e notável: a aparição de uma
forma feminina, vestida com um volumoso e complicado traje branco de
freira, trazendo luz na fronte e no tórax. E no peito um crucifixo com
cerca de dez centímetros de altura. Era Irmã Josefa.
O ambiente vibratório não era dos melhores, mas, ainda assim, Irmã
Josefa se manteve materializada durante meia hora. Além das provas que
precederam sua aparição tangível, deu ela ainda outras: conversou com os
repórteres e fotógrafos durante trinta minutos, permitiu que lhe
tocassem o corpo, deixou-se fotografar ao lado de Mário Moraes, Jorge
Audi e José Franco.
A conversa inteira entre Irmã Josefa e os repórteres foi registrada no
gravador do Dr. Eurípedes Tahan Vieira. A fita magnética foi emprestada
ao autor desta obra, que a ouviu, atentamente. Durante a conversa,
houve momentos curiosos. Como este, por exemplo : estavam sendo batidas
fotografias, quando um dos fotógrafos disse a Irmã Josefa:
- Eu gostaria de tirar uma foto sua em pose especial. A senhora não quer abrir os braços?
Irmã Josefa captou imediatamente o pensamento do fotógrafo e respondeu, com seu sotaque alemão:
- Oh, que bonita... Está pensando que meu braço é braço de Otília...
E, abaixando a voz, acrescentou:
- Eu vou abrir os braços... Faço isso de coração. Pronto...
E, antes do flash explodir, Irmã Josefa exclamou, alegre:
- Viva Jesus!
Essa foto prova que Irmã Josefa é independente da médium; em termos, é óbvio.
Materialização total de Alberto Veloso no consultório do Dr. Waldo Vieira
|
A cara de assustado do repórter é simplesmente impagável...
|
Minutos depois de Irmã Josefa desaparecer, verificou-se no pequeno
consultório o quinto fenômeno: de súbito, caiu sobre todos os presentes
uma chuva leve de éter (prenúncio de que o espírito de Alberto Veloso
iria também materializar-se). Um minuto depois, o fato deslumbrante foi
visto. Como de costume, apresentou-se com barbas e vestido, por assim
dizer, à moda oriental. Durante nada menos que quarenta minutos o
ex-médico da marinha se manteve no ambiente. Foi inúmeras vezes
fotografado. De pé e com os braços abertos. Em certo momento, para
provar a Nilo Oliveira, que se encontrava do lado de fora, que algo de
notável estava se processando dentro do consultório, jogou éter no
exaustor. Ao respirar o éter, o repórter certamente pensou: "Dna.
Otília conseguiu esconder um vidro de éter e nós não percebemos!" Ao
terminar a sessão, Nilo Oliveira entrou no consultório e, bastante
surpreso, encontrou a médium na posição exata em que a deixara:
sentada, algemada e... presa com correias e cadeados. Libertou-a,
depois de constatar, cuidadoso, que todas as tiras de esparadrapo que
cobriam as fechaduras continham a sua assinatura. Mas um outro repórter
não se conteve e quis examinar, mais uma vez, a roupa preta que os
médicos haviam dado a Dna. Otília. Forçou-a, rasgou-a: a médium, na
revista
O Cruzeiro, aparece de soutien! Um dos fotógrafos bateu
inesperadamente uma foto... Ainda sob a emoção, diversos repórteres
deixaram suas impressões sobre os fenômenos no gravador do Dr.
Eurípedes Tahan Vieira. Vamos transcreve-las, integralmente, e na ordem
cronológica, a fim de que o leitor possa compará-las com os
depoimentos que, dias depois, publicaram na revista
O Cruzeiro.
"Eu, Nilo Oliveira, posso declarar que algemei a Dna. Otília, médium
que atuou nesta sessão, rubriquei e colei o esparadrapo na fechadura dos
cadeados e tomei conta do exterior da casa onde se realizava esta
sessão. Não observei absolutamente nada de anormal por fora. E terminada
a sessão, penetrei na sala E ENCONTREI TUDO COMO HAVIA DEIXADO: a Dna.
Otília algemada, tendo eu desfeito a algema, aberto os cadeados e
encontrado as rubricas que havia feito anteriormente."
"Eu (diz agora Mário Moraes) repórter de
O Cruzeiro, declaro que
assisti uma experimentação realmente estranha: NUNCA HAVIA VISTO NADA
IGUAL, e é lógico que não sendo estudioso da matéria, NÃO TENHO
EXPLICAÇÃO PARA O QUE VI. Passo a partir desse momento a me interessar
pelo problema: procurarei no futuro próximo talvez dar uma explicação
para o fato."
"É difícil (confessa Henri Ballot) dar uma explicação... É a primeira
vez que eu assisti a uma sessão assim... Eu fiquei SURPREENDIDO pelo
fenômeno, que a primeira vista não se vê uma explicação plausível....
Deve haver uma, não há dúvida. Eu tenho algumas idéias a respeito disso.
Mas não tenho autoridade para falar."
"Sinceramente (diz o repórter José Franco) após essa reunião não sei o
que dizer; fiquei bastante IMPRESSIONADO COM O FENÔMENO, mas ainda
tenho uma explicação a respeito."
"Eu assisti a uma dessas sessões realizadas em Uberaba (diz Audi) e é
REALMENTE ESPETACULAR; nós procuramos de toda forma encontrar alguma
falha, algum defeito, alguma coisa que pudesse denunciar anormalidade.
E, naturalmente, vai depender de algum raciocínio e, se possível, uma
outra oportunidade em que a gente possa ter mais chance de observar
melhor o fenômeno. No momento, o que eu posso dizer é que, para mim, FOI
UMA COISA INÉDITA! EU JAMAIS HAVIA ASSISTIDO COISA IGUAL, embora na
vida de um repórter essas emoções são quase que diárias. Essas emoções
novas e violentas são já um lugar comum na vida de um repórter. Posso
afirmar que é realmente QUALQUER COISA ASSIM EMOCIONANTE. Agora, eu
gostaria de ter mais contato e mais oportunidade PARA PODER FAZER UM
RACIOCÍNIO MAIS ABSOLUTO."
Essas, as declarações dos repórteres logo após a sessão com a notável médium Dna. Otília Diogo.
Depois, porém....
O ESCÂNDALO DE "O CRUZEIRO" E A MISSÃO DE IRMÃ JOSEFA
A sessão de Uberaba parecia haver terminado bem; o depoimento vibrante
dos repórteres, aliás, deixa evidente que os jornalistas ficaram
profundamente emocionados com o que viram e ouviram na famosa
experimentação com a médium Otília Diogo. Em verdade, Irmã Josefa deu
aos repórteres algumas das mais importantes provas da imortalidade do
espírito. No entanto, dias depois, a revista
O Cruzeiro divulgou
em todo o Brasil uma reportagem (primeira de uma extensa série)
assinada por seis dos sete repórteres e intitulada... "A Farsa da
Materialização": uma reportagem enorme, com catorze páginas, arrasando a
médium, os médicos e as reportagens subsequentes, os repórteres se
tornaram ainda mais agressivos (para efeito de sensacionalismo) e
taxaram os médicos de mistificadores, levianos, escroques, petulantes,
gangsters (...) etc.
Essa formidanda campanha de
O Cruzeiro contra o Espiritismo teve
a duração de quase três meses consecutivos! Ocupou onze números
seguidos da revista! Nos onze números, foram gastas cerca de setenta
paginas compactas... Ilustraram a campanha um total de oitenta e sete
fotografias!
Foi, em verdade, o maior golpe sofrido pelo Espiritismo, por enquanto, em toda a América do Sul!
No grande escândalo, o nome venerável de Francisco Cândido Xavier Também foi envolvido.
Vejamos as principais acusações da revista
O Cruzeiro que pretenderam transformar em farsa as materializações de Uberaba:
1) O espírito masculino de Alberto Veloso se materializa com seios
2) Em baixo do turbante de Alberto Veloso se esconde uma vasta cabeleira
3) O ectoplasma que sai da boca, ouvidos e nariz de Otília Diogo é um chumaço de pano branco
4) A roupa das formas materializadas é uma só
5) A roupa das formas materializadas apresentam marcas nítidas de confecção mecânica: sinais de dobragem e costuras
6) O fio da "roupa" de Irmã Josefa, encontrado após a sessão, não era fio ectoplásmico
7) Apenas a barba diferencia Otília Diogo de Alberto Veloso
8) Otília Diogo não é filha de Irmã Josefa, e sim de Dna. Maria Luisa Barbosa
9) Otília Diogo tinha os pés praticamente soltos, após a sessão.
10) Dr. Waldo Vieira não permitiu aos repórteres o uso de infravermelho
11) As algemas e cadeados eram de propriedade dos médicos
12) Os repórteres não examinaram, antes da sessão, o corpo e as vestes da médium Otília Diogo.
13) Nilo Oliveira não pode, a sua maneira, manietar a médium
14) Os Drs. Alberto Calvo e Oswaldo de Castro também manietaram Dna. Otília Diogo
15) Os repórteres não tiveram liberdade para escolher suas cadeiras na sala de experimentação
16) A vitrola, durante a sessão, não tocou (?)
17) O espírito de Alberto Veloso não fala
18) Irmã Josefa disse, em determinado momento, que tinha apenas um dado materializado, mas na verdade tinha ela os cinco
19) As roupas das materializações apresentam vincos e dobraduras
20) As materializações, sob a luz, projetam sombras nas paredes
21) As fotografias das materializações são truques grosseiros
22) Há coleta de dinheiro nas sessões científicas
23) Nos pés de Otília Diogo, pós a sessão de Uberaba, existiam resquícios do círculo de giz feito pelos médicos
24) Não foi permitida a prova do talco
25) Chico Xavier estava "falsamente inebriado" ao lado da Irmã Josefa, em uma fotografia
26) Waldo Vieira prometeu aos repórteres inúmeras sessões com a médium Otília Diogo
27) A virgindade de Irmã Josefa é indiscutível
28) Otília Diogo abandonou vilmente o marido e filhos
29) Documentos "oficiais" provam que a materialização de Uberaba é farsa
Antes de refutarmos as acusações (a maior parte refutada
aqui), digamos que essas reportagens de
O Cruzeiro
abalaram profundamente os espíritas de todo o país e, por mais
estranho que pareça, a convicção de alguns líderes... Não obstante,
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, dois médiuns notáveis e
impolutos, colunas mestras da mediunidade no Brasil (instrumentos de
Emmanuel e André Luís) estarem presentes à experimentação. Esse fato,
por si só, deveria ser, pelo menos para os "líderes", uma garantia da
autenticidade dos fenômenos. E, apesar dos espíritas, em geral,
saberem, perfeitamente, que a revista
O Cruzeiro sempre foi
inimiga declarada e feroz da Doutrina de Allan Kardec. Ou será, santo
Deus, que não nos serviu de lição a reportagem que David Nasser (hoje,
um dos diretores de
O Cruzeiro) fez há alguns anos ridicularizando Francisco Cândido Xavier e o Espiritismo ?!
Aproveitamos o momento para responder à pergunta, que, certamente, o
leitor já formulou: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira já foram
avisados pelos Guias espirituais que a sessão com os repórteres iria
transformar-se em escândalo nacional?
A resposta, em se tratando de dois médiuns missionários e com grande
responsabilidade na evolução do Espiritismo no Brasil, só poderia,
evidentemente, ser esta: o mundo espiritual os avisou. Mas, não podiam
recuar; porque os escândalos, em nosso planeta, são necessários...
Lembremo-nos de que o próprio Cristo serviu de escândalo.... para o bem do cristianismo!
Quanto a Irmã Josefa, podemos dar nosso testemunho de que também ela
sabia do que estava por suceder; e, com antecedência de meses!
Recordo-me de que em Uberaba, quando ainda não nos passava pela mente o nome da revista
O Cruzeiro,
Irmã Josefa, materializada, dirigiu-se nestes termos a Wanda Marlene,
da TV Itacolomy de Belo Horizonte e notável defensora do Espiritismo:
- Você, minha filha, vai ser soldado de Irmã Josefa. Você gosta de ser soldado de Irmã Josefa?
Naquele momento, ninguém entendeu nem deu importância as palavras
proféticas de Irmã Josefa... Se as sessões de materialização, em
Uberaba, estavam se processando na mais absoluta calma e
tranqüilidade...
Também, em minha residência, em São Paulo, Irmã Josefa, plenamente materializada, disse, dirigindo-se a mim:
- Você vai ser mais que um soldado de Irmã Josefa.... Você gosta, Rizzini?
Respondi automaticamente que sim; não me ocorreu interrogar a entidade... Mas, um ou dois meses depois, abria a revista
O Cruzeiro
guerra contra Irmã Josefa e as experiências de Uberaba: e a verdade é
que nós, e Wanda Marlene, na qualidade de soldados, entramos na luta - e
na linha de frente!
Já agora, na mente do leitor, se delineia a difícil missão confiada ao
admirável espírito de Irmã Josefa: sacudir (e trazer) a consciência de
todo o povo brasileiro para os problemas fundamentais da imortalidade.
Irmã Josefa, como vimos, estava perfeitamente consciente dessa missão.
Missão árdua, repetimos, pois materializando-se, como freira, agitou o
clero da terra e o clero do espaço... Para bem cumprir a missão
(apoiada por Emmanuel e André Luís) tinha ela de, pacientemente, criar
uma série de circunstâncias: aproximar a médium Otília Diogo de Chico
Xavier e Waldo Vieira, cujos nomes já eram famosos no campo da
mediunidade; reunir em Uberaba uma equipe médica que se
responsabilizasse cientificamente pela sua materialização e de Alberto
Veloso, espírito que podemos considerar como seu assistente. Mas, esse
trabalho, apenas, não bastaria: era necessária a presença de divulgação!
Agora, um outro detalhe importante que mostra a inteligência e a
argúcia dos espíritos: a revista
O Cruzeiro chegou em Uberaba
representada não apenas por um jornalista, mas por uma equipe formada
por... sete repórteres! Não se tem notícia de um tema para reportagem
que exigisse a colaboração de tantos jornalistas...
Prontos os preparativos, presentes às materializações os sete
repórteres da mais importante revista brasileira, os fenômenos se
desenrolaram e... dias depois, a consciência popular foi violentamente
despertada para os problemas espirituais; inclusive, a consciência dos
espíritas adormecidos e vacilantes... e sem posição firmada!
Com a revista
O Cruzeiro Irmã Josefa atingiu o objetivo. E o
resultado, indiscutível, é que durante a publicação da extensa série de
reportagens sensacionalistas todo o povo se interessou pelo
Espiritismo; e como se vendeu no Brasil livro espírita -
principalmente, os que relatam fenômenos da mediunidade! Quem o diz é o
próprio Departamento Editorial da Federação Espírita Brasileira.
Diversas edições se esgotaram em poucas semanas... Nesse sentido, o
"caso Otília Diogo" nada fica a dever ao "caso Arigó".
Mas, paralelamente ao escândalo, era preciso promover a defesa da
autenticidade das materializações de Uberaba, de acordo com o plano de
Irmã Josefa. E, para alegria nossa, em um local de São Paulo, recebemos
das mãos de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira o material de que
necessitávamos: a fita magnética que contém as declarações dos
repórteres, fotocópias, filmes, fotografias, etc. E, inclusive, a roupa
especial que a médium Otília Diogo usava durante a experimentação, e
que foi violentada.
Agora, restava-nos, apenas, cumprir a obrigação.
E foi o que fizemos, com a ajuda dos mentores espirituais.
Fim dos trechos do livro
Luciano do Anjos e Jorge Rizzini, em programas televisivos, desmascaram a
fraude dos repórteres e expuseram tudo o que eles fizeram de errado. A
desmoralização foi total, tanto que, num ato de desespero, até
invocaram um repto de honra, que simplesmente foi desconsiderado pelos
médicos, médium e Chico.
Seis anos depois, Otília Diogo foi presa com uma maleta recheada de
roupas utilizadas nas "materializações". O hábito de irmã Josefa também
estava lá. A transformista confessou até mesmo ter pago uma cirurgia
plástica facial com exibições "espíritas" na casa do cirurgião. Atrás
das grades, desta vez numa delegacia, ela explicou ter perdido a mediunidade em 1965,
um ano após as sessões em Uberaba. Não se conformou e decidiu apelar para truques. Chico Xavier, em entrevista à revista
O Cruzeiro, voltou a definir todo médium
como "uma criatura humana, com defeitos, qualidades e anseios humanos".
Para ele, havia os espíritas capazes de superar as vaidades e viver
para o outro e havia, também, aqueles que não suportavam os baques
"reservados por Deus como provação". O fato não inviabiliza a sessão de
materialização que os repórteres e médicos testemunharam.
Referência:
Críticas à materialização de Otília respondidas e esclarecidas;
Mais casos de materialização de espíritos;
Materialização do bispo de SP;
Materialização (Ectoplasmia);
Casos de materialização;
O laboratório do mundo invisível: Modificação das propriedades da matéria elementar pela vontade do Espírito;
Análise do ectoplasma;
Sobre o ectoplasma;
Casos analisados por cientistas no Séc XIX
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